quarta-feira, 11 de maio de 2016

Pai Nosso

Num rito de penitência, peço licença ao Patrão
Sorvo de sua palavra, na esperança do seu perdão

Me dobro diante de ti, com sede de sabedoria e luz
Em horizontes sem fim, carrego, o que me destes como cruz

Sou como um campo seco, a espera da água da chuva
Sou como filho, diante de ti, com respeito de quem se curva

Me reconcilio com o pai celeste, no cair da aurora, a cada fim de lida
Ainda de pala, diante do livro sagrado, lhe conto a minha vida

Louvo ao criador, e me ponho em oração, piedade senhor
Rezo, pois sou povo de Deus, sussurro gratidão com espírito de amor

Neste ritual, me lanço ao rigor de cada dia, cumprindo meu ofício
Numa missão de fogo, campo, doma e até guerra, cumpro meu sacrifício

Ungido com água sagrada, me deste lugar neste mundo, em atos de louvor
Celebro a ti, no meu tempo, em busca da benção, como qualquer pecador

Com as mãos pro o céu, joelhos ao chão, em comunhão com Deus, o mistério em canto
Em sinal de obediência, eu repito sempre, em nome do pai, do filho e do espírito santo.

Marcos Alves.

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domingo, 8 de maio de 2016

Sorvendo o Fim

Lavo a erva, num "converse" sem fundamento.
Devaneio da vida, em passos ao relento.

Lembro, e até afirmo, fatos, por algum momento.
Me perco no pensar, enquanto me analiso por dentro.

Olhar, já com pouco brilho, na idade do tempo.
Deleito uma seiva charrua, perto do fogão, atento.

Nas paredes do meu galpão, ranhuras, contam o que enfrento.
De aba larga, tapeio a vida, e a tranço, com o melhor tento.

Ademais, os alaridos, em meu pensar, atormentam agora.
Bombachas gastas, sovadas da lida, em fim, chegando a minha hora.

No meu cepo, pensativo, em tarca relaciono os amores.
Ao patrão, em prantos, eu suplico, em meio as minhas dores.

Nesta vida, e desta vida, peço preferência.
Aproveito o merecido, enquanto eu ainda, tenho tenência.

Marcos Alves.

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quarta-feira, 4 de maio de 2016

Meu Pensar em Abandono

Certa vez, me deparei debaixo de um tarumã.
Na sombra do antigo, num vento sul e na busca de um amanhã.

Na mente, tormentas tomam conta do meu juízo.
Campo, céu e poesia, são coisas das quais vivo e preciso.

Cicatrizes da terra, estas teimam em não curar as feridas do couro e da alma.
Querência, campo e cavalo, nesta vida torena, eu trago sempre na palma.

Mel, canha e uma madrugada fria, momentos únicos de um bagual.
Noite e bolicho, trás diversão e peala da mente, o temporal.

Em um barranco, vou em assobio, grilando uma nota em melodia.
Picumãs, chaminé e céu, riscam as caminhadas do meu dia.

Na groso da vida, caminho pelos versos do coração, em disparada.
No clamor, que minha alma exige, e na calma de uma madrugada.

O meu pensar, desafia o tempo, e o silêncio, este insiste na solidão.
Na trincheira do meu abandono, dedilho pensares embalados pelo meu violão.

O carvão, que o fogo prepara no início de cada manhã, aquece os sentimentos.
Incerto, do que a vida reserva, ao pai celestial eu me entrego, em todos os momentos.

Indo pela direita, esquerda e até mesmo pelo meio, eu ainda, sem os freios me vou ao vento.
Minha mente, me conduz, e não destrói o que tenho por certo, pois, sou um taura a frente de seu tempo.

Marcos Alves.

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segunda-feira, 2 de maio de 2016

O Livro da Vida


As envelhecidas páginas, da minha vida, trazem temas de grande importância.
Embora, escritas a muito tempo, ainda são, vivências de hoje, em dialeto sagrado.

São linhas, paginadas de ensinamentos, que indicam ao novo, início, meio e fim.
Antigas verdades, vivência campeira, amores e sofrimento, nas rugas que trago.

São relatos de felicidade, dor e perda, passagens da vida, em tinta e folha.
Segredos, que mostram o que fui e sou, em tramas, que por horas, relambórias.

Conto por vezes, o desbotar da vida, e no quebrar de alguma linha, o colorido.
Na virada da folha, vem a saudade em tapera, os soluços das perdas e o choro das vitórias.

Caneta e lápis, foram e são armas das quais guerreio em batalhas contra o tempo.
Não foi preciso lamentos, temos o que merecemos, e por isto, apontamos no papel.

A distância entre a vida e a morte, por vezes, tem o tamanho do laço nas aspas de um boi.
Fica mais tempo, neste plano, os que por sorte, ao pai de joelhos respeitou no céu.

É certo, que neste livro de capa dura, folhas brancas outras amareladas, onde escrevo, eu nunca nada apagarei!
Alguns ritos desta vida, podemos ditar, outros não. Em meu leito final, já nas últimas linhas, estas, eu não mais as escreverei.

Meu livro, me entrega, trás o que fiz e foi visto, e o que deveria ter feito, e nada fiz.
Rabisco, tem aos montes, e até apagados podem ser, por alguém que não eu.

Passado e presente, foram sendo ditados, pelos meus próprios punhos e olhos.
Futuro, este não me pertence, neste livro, só verdades escrevi, com a cancela do coração aberta, e nele, só quem riscou, fui sempre eu.

Marcos Alves.

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