terça-feira, 21 de junho de 2016

Voz ao Silêncio

Dou voz ao meu silêncio,
pelas patas do meu crinudo.
Explico a quem quiser ouvir,
no meu andejar sem rumo.

O sujeito, cuja a mente é um cerne,
faz do seu tempo, um suplício.
Não acompanha, o que se apresenta,
engessando a vida, à beira do precipício.

Quem por regra, segue o trilho da chuva, enxerga este mundão, em sua verdade.
No embestar da cegueira humana, há de ficar,
questionamentos diversos, em qualquer idade.

Neste tempo que vivo, diferente do ontem,
vejo e não acredito, busco abrir o pensamento.
Sou herdeiro de uma tradição, firme em fundamentos,
no amanhã incerto, de peito aberto, espero o momento.

No dia a dia, por cima do basto, dia e noite me vou,
em trilhas que mostram o qual diferente um é do outro.
Mesmo em qualquer querência, que tropeço, eu duvido,
quero saber e ver tudo, não aceito verdade vindas ao sopro.

Marcos Alves.

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quarta-feira, 8 de junho de 2016

Velho um Título

No meu couro, historias escritas em rugas de sabedoria,
nestas linhas, aprendi e sei, todo o início tem um fim.
Me denominam um velho, veterano em seu tempo e lugar,
tenho a alma estancieira, onde plantei vida, e foi sempre assim.

Entre primaveras e outonos, de chapéu tapeado e perna alçada,
sol e geada, foram muitas, num silêncio costumeiro.
Vivo só, campo e solidão, foram destinos oferecidos desde guri,
o tempo não poupa, e se mostra, mesmo para este bagual caborteiro.

O sangue da cultura do meu pampa, corre em mim,
como água, dos mates madrugadeiros que sorvi.
Tramelas das mais diversas porteiras, não foram trancas pra mim,
de goela aberta, conduzi meu ofício de capataz, e assim vivi.

Tenho vida de peão, esta é a minha sina para todo o sempre,
ressuscito a cada manhã. jujado na esperança ao som, dos pássaros cantando.
Busco o leite ainda fresco, recorro os animais, dos poucos que tenho e me vou pra lida, pelas estradas como sempre, cavalgando.

Marcos Alves.

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Audácia do João

Certa feita, ao abrir a porta do meu rancho,
nos primeiros raios de sol, o pasto ainda orvalhado.
De frente pra mim, numa audácia tamanha, um João,
sem permissão, num frenesi bárbaro e de bico molhado.

João, a quem Deus agraciou com asas em forma de vida,
e a tarefa, de fazer do barro um rancho, sua cobertura.
Bicho lindo, numa perícia gigantesca, terra e água, ainda fresca, pelo bico, num ritual que até nem entendo, conduz a obra com formosura.



Acompanhando seu trabalho, lua e sol, e admiro o acontecido,
no meu esperar pra lida, ensino os guris a importância do momento.
Fico até sem fala, no admirar da obra divina, mas não deixo por menos,
com a voz firme, exijo, quero respeito ao bicho, que viva seu tempo.

Animal sábio, e ainda que pequeno, um gigante em conhecimento,
constrói seu rancho perto do meu, assim, peito a peito.
E eu, já de garganta seca, peço água a todo momento, e num espanto,
a obra deste artista da natureza, termina em um traço perfeito.

Marcos Alves.

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quinta-feira, 2 de junho de 2016

Sou Pampa, Terra e Sul

Ainda guri, fatos e contos escutei, pelas vozes, dos antigos atuais.
Perícias e manejos do campo, aprendi, por verdades, dos mais diversos  mananciais.

Retempero a minha alma, com labaredas da história, relembro dos  tempos idos, com palavras de saudade.
Pelos verdes dos campos, eu cresci e vivi, fui assolado por tudo, campo e céu, de relance a maldade.



Na calmaria que se apresenta, me vou ao estilo sereno,
pelos favos das bombachas, determinei tempo e lugar.
Num semblante "abagualado", não relincho ao alheio,
com o sol na moleira, gaita e violão, dedilho meu sonhar.

No minuano recorrente, vou "desquinando" as intempéries,
aqueço as manhãs, junto ao angico, brasas ao relento.
Encilho as horas em um silêncio, no verde do meu mate,
penso, no rastro que deixei, de certo, ensinamento.

Vou meio sólito, conduzindo o corpo em tapera,
peleando os dias, adiante de cada porteira.
Me agrada esta passagem, na lida ao redor da cultura,
sou pampa, terra e sul, uma lenda campeira.

Marcos Alves.

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